quarta-feira, 1 de junho de 2011

O que os leitores têm a dizer

Para o fã de rock’n’roll e heavy metal, tão importante quanto ouvir música é acompanhar a carreira de artistas, estar atento a lançamentos de álbuns e início de turnês, conhecer o contexto dos clássicos do gênero e até entender de técnicas instrumentais. Exteriorizar essas noções é contribuir para um conhecimento coletivo e também se afirmar. Nas últimas décadas, esse estilo de música popular mais agressiva transcendeu esferas e tornou-se manifestação cultural mundializada, em torno da qual se construiu uma sólida imprensa específica.
Nessa cadeia midiática, o jornalismo colaborativo se faz cada vez mais presente. De fato, esses meios de interação não poderiam deixar de ser incorporados em veículos especializados em música. Os consumidores desse tipo de informação – e especialmente os fãs de rock – têm por natureza a tendência de compartilhar conhecimento.
O Whiplash! conta com uma ista extensa de colaboradores fixos e eventuais, que enviam material voluntariamente. É a filosofia do site é investir na comunidade que existe em torno dos estilos musicais abordados. O investimento lhe rende um público fiel crescente e mais de 6 milhões de pageviews por mês, além de polêmicos comentários críticos.

O blog conversou com quatro leitores sobre alguns dos pontos do site que mais fomentam discussão. Alessandro Ferrony é jornalista e tem 32 anos. Érico Francisco Rocha da Silva, 30, é ilustrador e publicitário. Rafael Santos, de 23 anos, é estudante universitário e músico. Raphael Trevisan é um técnico em TI de 22 anos. Todos eles conheceram o Whiplash em meados dos anos 2000 e visitam o site, no mínimo, duas vezes por semana desde que o descrobriram.
Ao jornalismo tradicional, os quatro rapazes pouco recorrem, com exceção, por óbvio, do único jornalista entre eles. As informações que Raphael, Rafael e Érico procuram são principalmente sobre música, em blogs e sites especializados, blogs de rádios, sites oficiais de bandas e de produtoras, redes sociais e leitores de feeds. São também em meios alternativos que os três procuram por outros assuntos específicos de seus interesses. 
O jornalista Alessandro se mantém informado por telejornais e pelos jornais impressos Zero Hora, Jornal do Povo e O Correio. Os dois últimos são publicações de seu município, Cachoeira do Sul, e nos quais ele participa através de comentários, sugestões de pautas e correções. Sobre música, além do Whiplash, Alessandro também visita o UOL Música.
Dos quatro, três são, além de consumidores de conteúdo cultural, também colaboradores em alguns veículos. Alessandro publicou incontáveis resenhas de shows e CDs, fotos, matérias, entrevistas e colunas em sites como PUNKnet, ValePunk, Sorocaba Underground, Extreme Nuts, Jornal do Rock RS, HC Nordeste e outros, entre 2003 e 2008. Também em revistas e zines de maior expressão, como Rock Brigade e Comando Rock. Para o Whiplash, Alessandro contribuiu apenas uma vez, quando enviou uma nota sobre o lançamento de um disco da banda Rosa Tattooada. No momento, Alessandro tem como hobby abastecer o blog de rock e humor O Fim da Várzea, que retrata de maneira descontraída tudo o que acontece na cena rock de Cachoeira do Sul (RS). Érico também já colaborou com fanzines e blogs sobre universo geek (games, quadrinhos, etc) e temas sociais e políticos. A contribuição de Rafael é numa linha diferente: há alguns meses ele envia textos ao Recanto das Letras, site que reúne poesias e pensamentos de centenas de colaboradores no país.

Todos eles acham importante a existência dos dois editores profissionais no Whiplash. “Isso contribui para a riqueza do conteúdo, pois até hoje não presenciei nenhum erro ortográfico ou semântico no conteúdo do site, e também não encontrei sequer uma matéria escrita com pobreza de conteúdo e de forma”, avalia Raphael. Érico concorda, e não apenas com a questão da escrita correta: “Isso dá credibilidade ao o que é publicado, senão 'vira bagunça', como no caso do portal Terra (que possui matérias escritas inclusive pelos próprios usuários do portal) e que publicou certa vez uma reportagem sobre a visita de Jimmy Page no Brasil, na qual ele era citado como BATERISTA da sua antiga banda Led Zeppelin”, recorda. Os outros dois, Alessandro e Rafael, mesmo ao considerar positiva a edição dos conteúdos por profissionais, afirmam que acessariam o site mesmo se esse controle não existisse. Alessandro explica: “Continuaria lendo mesmo assim, julgo ter feeling suficiente pra sacar quando uma informação é verdadeira ou não. Mas evidente que com o filtro de profissionais diplomados a credibilidade é maior”. Os quatro leitores dizem também confiar no que é publicado pelo site e que em raras ocasiões buscam confirmação do que leem no Whilplash em outras fontes, como quando anunciam datas de shows.
Quanto à home do site, onde ficam apenas as notícias tidas como principais, a valiação dos rapazes entrevistados é positiva. Rafael Santos descreve bem a opinião dos quatro: “A página inicial tem mesmo que conter algo mais 'sortido' para chamar a atenção e mostrar ao leitor que não esta familiarizado com o site que ele tem bastante conteúdo diversificado a oferecer. Quem realmente quer se informar mais sobre os determinados assuntos ou artistas, vai saber procurar no site e ler”.
Sobre as notícias estilo tabloide que eventualmente aparecem no Whiplash, as opiniões divergem, da mesma forma como acontece nos comentários online no site sobre esse tipo de nota. Raphael e Alessandro não veem tanto problema na publicação de textos sobre a vida pessoal dos artistas. “Creio que qualquer fã, de qualquer tipo de artista, deseja sempre saber mais sobre os mesmos. Todo fã deseja, de certa forma, participar da vida de seu ídolo. Então, este tipo de conteúdo é sim benéfico, pois 'é disto que o povo gosta'! Alessandro avalia de uma forma mais mercadológica, que pelo trabalho no ramo, tem conhecimento: “É normal encontrarmos respingos da imprensa cor-de-rosa até mesmo no meio metal. O público consome isso, é comércio, normal”. Érico e Rafael são mais radicais a respeito. Érico solta “Tenho mais o que fazer. Eu gosto de música e da carreira das banda. Não tenho interesse na vida dos integrantes”. Rafael também tem uma resposta curta: “Deveriam cortar esse tipo de matéria sobre vida íntima”.
Os quatro acreditam no jornalismo colaborativo, não só em veículos sobre música. Para eles, nas editorias ambiental, de literatura e de games esse formato também funciona muito bem. “A evolução da era da informação proporciona tecnologias para que as informações tendam a ser mais compartilhadas e colaborativas”, completa Raphael Trevisan.
Para esses entrevistados, e para a maioria dos leitores do Whiplash, o que é relevante nessa mídia especializada, mais do que uma formação acadêmica e um currículo respeitável, é a propriedade com a qual o assunto é tratado, o domínio sobre o que é compartilhado e as experiências que quem escreve tem a dividir.

Um comentário:

  1. Po, legal o trabalho de vcs. Dois anos atrás fiz meu TCC sobre o Whiplash tbm, eu e meu grupo passamos um ano levantando dados, comparando com sites e entrevistando gente, fizmeos um livrão bacana sobre o site e passamos com 9.5 na banca.

    Pena que o João Paulo não curtiu nossas idéias, mas foi divertido de fazer mesmo assim, muito melhor q um TCC sobre pasta de dente ou algo do tipo.

    Boa sorte pra vcs! \oo/

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