quarta-feira, 1 de junho de 2011

Entrevista com João Paulo Andrade

João Paulo Andrade foi quem idealizou o Whiplash em 1996. O manteve com ajuda de participantes de um chat por três anos, até outros usuários começarem a contribuir. Assim, o Whiplash se tornou um site colaborativo. Na entrevista a seguir, ele conta alguns detalhes desses 15 anos de Whiplash.
João Paulo Andrade, editor do Whiplash!


Como o site foi divulgado assim que ele surgiu?


Faz tanto tempo que é difícil lembrar em detalhes precisos.
Antes de existir Google, cada nova página criada era cadastrada em mecanismos de busca, internacionais como o Yahoo! e nacionais como o Cadê. Divulgava em canais de bate-papo existentes na época dedicados a rock e metal, no irc da Undernet, em listas de links mantidos por alguns sites nacionais como UOL e etc que listavam alguns links escolhidos semanalmente e enviava para revistas de internet que sugeriam sites, como a finada Internet World. Participava também de concursos diversos de melhor site de música e etc...
Isso tudo faz pensar o quando a internet mudou, não? :)




Como foi o processo de transição para o sistema colaborativo? Quando foi e o que fez você concluir que era necessário aderir esse formato?


Não houve um ponto de mudança. Um dia algum amigo mandou material, outros amigos viram e mandaram mais material... Num determinado ponto percebi que ao invés de escrever tudo valia a pena investir em facilitar o envio de material por outros usuários.

Sem perceber o site virou colaborativo. Foi orgânico, não foi premeditado.


O Whiplash começou como um site despretensioso. O que o levou a ser, hoje, referência no jornalismo online de música no Brasil? 


Se eu soubesse a fórmula ficaria rico com outros sites :D 
Acho que ajudou muito o fato de ser o primeiro. Desde os primórdios da internet saímos na frente. Hoje em dia emplacar um site como este do zero é muito difícil. Tivemos oportunidade de crescer devagar junto com a internet e ir aprendendo. 
Arriscar um bocado indo na contramão da manada em alguns aspectos com certeza ajudou. O pioneirismo em aspectos como aceitar comentários dos usuários, aceitar colaborações dos usuários, etc, antes desse tipo de coisa virar moda, ajudou também.
Destacaria ainda o foco no conteúdo e comunicação com o público e não em layout e recursos "bonitinhos".


Conforme o site se expandiu/se expande, que novos cuidados foram/são tomados com sua "reputação" na web como veículo?


Nem tem a ver apenas com manter a reputação.
Ficar de olho no que está sendo comentado, no site e fora dele, nos permite fazer ajustes rápidos, corrigir os erros - sejam erros objetivos em matéria, sejam erros de estratégia. Responder aos usuários, sempre, mesmo que não seja possível atender as solicitações. Além de ajudar a manter a reputação esta comunicação ajuda a manter o site eficiente.


Quais notícias ficam de fora da lista de notas diárias?


90% do conteúdo recebido é publicado. Apenas não entram matérias extremamente mal-escritas (quando a correção dos editores não seria suficiente) ou claramente exageradas ou infundadas. 
Existe um longo e detalhado tutorial que explica sobre as regras de formatação e estilo que devem ser adotadas no envio de material para o site, disponíveis na própria página que tem de ser usada para o envio de informação. Os próprios formulários filtram boa parte dos erros de forma automática. Em qualquer caso de não aproveitamento, o colaborador recebe por email explicações sobre o motivo da não-publicação.
Os colaboradores são retro-alimentados com mais informações para poder enviar o material de forma cada vez mais adequada. Então a não publicação de um material não significa que este material não possa ser reenviado e publicado mais tarde.
De forma bastante orgânica, devido a esta comunicação semi-automática com os colaboradores, à medida que eles escrevem mais conteúdo para o site, a quantidade de erros de formatação ou estilo neste conteúdo vai diminuindo.


O sistema que seleciona as notícias e os destaques que aparecem na homepage não limita ou condiciona o conteúdo principal do site a tratar sempre dos mesmos artistas?


Sem sombra de dúvidas que sim, é uma faca de dois gumes. Mas a alternativa de usar a opinião de um editor para escolher o destaque seria um sistema sujeito a erros mais graves.
Este perfil mais "frio" do Whiplash! no trato de detalhes como este pode ser um dos diferenciais positivos do site.


Qual o perfil do colaborador do Whiplash? Há muitos jornalistas entre os colaboradores?


São fãs de Rock e Metal e acima de tudo fãs de Rock e Metal. 
Acredito que todo colaborador é um rockstar frustrado. Explico: todo mundo que gosta de rock quer ter uma banda, cantar, tocar guitarra, ser o centro das atenções. Nem todo mundo consegue. Mas todo mundo pode se tornar um colaborador do Whiplash! e ser famoso no meio rock e metal. 
Entre estes fãs existem alguns jornalistas. Mas isso, com todo respeito à classe, não faz muita diferença no caso do Whiplash. Temos excelentes colaboradores jornalistas ou não. Bem como colaboradores não tão excelentes, jornalistas ou não.


O site publica alguns boatos que surgem em outros sites e redes sociais (o Twitter, na maioria das vezes). Qual a importância para o Whiplash publicar incertezas?


A linha entre boato e não-boato é muito tênue. 
Na maior parte das vezes que divulgamos algo que é classificado como boato, estamos divulgando uma informação sobre, por exemplo, um planejamento de show ou algo do tipo. Planejamento que existe (e não é um boato, portanto) mas que muitos entendem como uma afirmação de que um show será realizado. 
Por exemplo: se dizemos que "Uma tour da banda Kiss está sendo negociada para setembro de 2011 no Brasil", muitos entendem que estamos garantindo que a banda Kiss se apresentará no Brasil em setembro de 2011. Mas apenas dissemos que a tour estava sendo negociada, embora ainda sujeita a cancelamentos ou não-concretização por qualquer motivo. 90% das acusações que sofremos de estar divulgando boatos na verdade se referem a interpretação errada de notas deste tipo. 
É preciso ainda levar em conta que no meio rock e metal, por natureza, os membros de banda, promotores e etc, por motivos diversos, escondem informações enquanto possível sobre temas diversos. esperar apenas por informações concretas de membros de bandas e promotores é contar com a fonte mais viciada do meio.

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